Saturday, February 21, 2004
Museum bar.
Sempre gostei de bares de museus. Gostaria até de ter tempo para organizar uma listagem daqueles que mais me agradaram, dos pontos positivos e negativos de cada um, um top ten dos melhores, enfim, agrupar momentos bem passados a que o espaço não foi alheio. Há um ano atrás, passei umas boas horas, não planeadas (mas esperava pela hora de um jantar agradável marcado para essa noite), no do Palais de Tokyo, em Paris. Pode dizer-se que neste caso, o bar está totalmente integrado no museu e na sua filosofia de espaços que se mudam fácil e rapidamente. A música, bem escolhida, está bem distribuída pelo espaço. Interessante também é observar a diversidade de pessoas que por lá pairam. Desde o director a ser entrevistado depois de uma reunião em mesa de bar, a outras pessoas que trabalhavam, a artistas em busca de inspiração, leitores de livros, o bebedor de café circunstancial, etc. O chão foi pintado por Michael Lin.
Palais de Tokyo, Paris, Janeiro de 2003
Palais de Tokyo, Paris, Janeiro de 2003
Porque hoje é Sábado (mas amanhã será Domingo).
Porque hoje é Sábado apetece deixar tudo correr de forma lânguida e serena, como se não quiséssemos interferir no normal curso dos acontecimentos.
Há uma paz nas almas que muita falta faz durante a semana. Há uma tranquilidade nas pessoas que tão útil seria noutras situações. Há janelas abertas, há gente nas casas, há mesas cheias ao almoço, há até lugares para estacionar.
Por ser (para a maioria das pessoas) o primeiro dia de descanso é sem dúvida um dia bem melhor aproveitado do que o Domingo que se lhe segue, eventualmente o dia mais estapafúrdio da semana. O que os Sábados têm de agradável o Domingo tem de desprezível. Enquanto o Sábado nos oferece calma sem ausência, o Domingo remete-nos para o absentismo total. O Domingo cai no erro de exortar ao alheamento. E uma cidade feita de alheados fechados em casa ou perdidos na rua torna-se aflitiva. Caminhar numa cidade ao Domingo é angustiante. Um espectro fantasmagórico assola a cada esquina. O silêncio é pesado. Mas se eu quero silêncios pesados não deverei sair da cidade?
O que eu gosto no Sábado é aquele sorriso escondido mas gratuito de quem caminha sem pressas nos passeios porque sabe que os minutos são seus. Ao Sábado a gentileza é outra. Os peões esperam pelo verde, os condutores repeitam passadeiras, não há atropelos nos passeios.
Ao Sábado as pessoas são felizes porque pensam ser donas do seu tempo. Deve ser isso.
Há uma paz nas almas que muita falta faz durante a semana. Há uma tranquilidade nas pessoas que tão útil seria noutras situações. Há janelas abertas, há gente nas casas, há mesas cheias ao almoço, há até lugares para estacionar.
Por ser (para a maioria das pessoas) o primeiro dia de descanso é sem dúvida um dia bem melhor aproveitado do que o Domingo que se lhe segue, eventualmente o dia mais estapafúrdio da semana. O que os Sábados têm de agradável o Domingo tem de desprezível. Enquanto o Sábado nos oferece calma sem ausência, o Domingo remete-nos para o absentismo total. O Domingo cai no erro de exortar ao alheamento. E uma cidade feita de alheados fechados em casa ou perdidos na rua torna-se aflitiva. Caminhar numa cidade ao Domingo é angustiante. Um espectro fantasmagórico assola a cada esquina. O silêncio é pesado. Mas se eu quero silêncios pesados não deverei sair da cidade?
O que eu gosto no Sábado é aquele sorriso escondido mas gratuito de quem caminha sem pressas nos passeios porque sabe que os minutos são seus. Ao Sábado a gentileza é outra. Os peões esperam pelo verde, os condutores repeitam passadeiras, não há atropelos nos passeios.
Ao Sábado as pessoas são felizes porque pensam ser donas do seu tempo. Deve ser isso.
Noites olissipenses.
Pois meu caro TMM, parece que não estávamos lá sózinhos.
Friday, February 20, 2004
Regresso aos posts pessoais...
...só para dizer que detesto o carnaval.
Thursday, February 19, 2004
A Irlanda.
Vão rapidamente ler o que o maradona (com minúscula) escreveu. Fabuloso.
Wednesday, February 18, 2004
Ao Manuel:
Schröder é unicamente Chanceler neste momento devido, melhor ainda, graças, ao seu opositor nas últimas eleições. Quando a CDU escolheu Stoiber para concorrer contra Schröder, esqueceu-se que a memória, felizmente, já não é assim tão curta, e que Stoiber não é tão moderado quanto possa parecer. Foi o que valeu a Schröder, penalizando obviamente a Alemanha no curto prazo. Mas há males que vêm por bem, e talvez Stoiber não deva nunca ter o poder. Uma amostra:
Cozinha.
Edmund Stoiber sobre o tema "Futuro da Mulher".
Berlin, Agosto de 2002
Cozinha.
Edmund Stoiber sobre o tema "Futuro da Mulher".
Berlin, Agosto de 2002
Tuesday, February 17, 2004
17 de Fevereiro de 2004.
Pouco tempo, pouquíssimo tempo, de facto, para postar o que seja. Trabalho q.b., um fim de semana bastante divertido e em boa companhia, uma seca dum jogo em Alvalade para começar a noite de sexta (aquela 2ª parte, que pobreza), leituras em ensolarados miradouros, e outras cousas que tais, têm feito com que as 24 horas dos meus dias pareçam apenas 12. Em registo de caderno de apontamentos, aqui deixo meia dúzia ou o que seja de nótulas, que por um ou outro motivo afloraram o meu pensamento, nos últimos dias:
- encontra-se com pouca dificuldade um álbum (vinil, 33 1/3 rpm) de Armando Gama e Valentina Torres na Feira da Ladra. A capa é simultaneamente um susto e um monumento. Ao mau gosto, entenda-se. Na mesma secção (embora em single 45 rpm) lá encontramos Manuela Moura Guedes, com uma bela mise, provavelmente acabada de sair do túnel de vento.
- do cima do miradouro afundamos a perspectiva?
- primum millum pardalorum est
- os blogs liberais são sem dúvida os meus preferidos
- as torres para Lisboa, a malha urbana, o desprezo pelo património do séc. XIX, o desvirtuar dos assuntos futuros e o show para inglês ver. Ainda mais, as comparações ridículas e circenses. Prémio da última semana directamente para Norman Foster, ao comparar a Piazza di San Marco a um projecto seu. Preciso de algum tempo para postar sobre isto. E eventualmente (ainda mais tempo) para dissecar aqui este estigma. Mas para que não se pense que isto é pessoal, aqui fica um bom trabalho do Senhor Foster:
Reichstag, Berlin, Agosto de 1999
- encontra-se com pouca dificuldade um álbum (vinil, 33 1/3 rpm) de Armando Gama e Valentina Torres na Feira da Ladra. A capa é simultaneamente um susto e um monumento. Ao mau gosto, entenda-se. Na mesma secção (embora em single 45 rpm) lá encontramos Manuela Moura Guedes, com uma bela mise, provavelmente acabada de sair do túnel de vento.
- do cima do miradouro afundamos a perspectiva?
- primum millum pardalorum est
- os blogs liberais são sem dúvida os meus preferidos
- as torres para Lisboa, a malha urbana, o desprezo pelo património do séc. XIX, o desvirtuar dos assuntos futuros e o show para inglês ver. Ainda mais, as comparações ridículas e circenses. Prémio da última semana directamente para Norman Foster, ao comparar a Piazza di San Marco a um projecto seu. Preciso de algum tempo para postar sobre isto. E eventualmente (ainda mais tempo) para dissecar aqui este estigma. Mas para que não se pense que isto é pessoal, aqui fica um bom trabalho do Senhor Foster:
Reichstag, Berlin, Agosto de 1999
Friday, February 13, 2004
Há um ano atrás.
Estava eu com a Jean e o Maik num comboio entre Bern e Milano. Uma viagem verdadeiramente inesquecível, pela beleza das paisagens únicas daquela manhã de imenso sol e frio. Subitamente, a neve desaparece e estamos no Lago di Como, já só com neve ao longe, nos Alpes mais altos. Uma imagem:
Lago di Como, Italia, Fevereiro de 2003
Lago di Como, Italia, Fevereiro de 2003
Barbie e Ken.
Ontem, pela noite, em casa que não a minha, vi 5 minutos de televisão. Não foram muitos, dir-me-ão, mas foram suficientes, dir-vos-ei. Foram suficientes para ver uma anormalidade tão grande que até ao momento foi a maior aberração que vi e ouvi em 2004. Noticiava então a TVI (quem senão?) que Barbie e Ken se decidiram divorciar ao fim de 43 anos de casamento. Ia-me babando! Como é que é possível noticiar semelhante estupidez? Confesso que estupidifico perante o conceito de dois bonecos se divorciarem. Mas que é isto? Onde é que estamos a chegar? Qual a reacção das crianças? Será apenas marketing? Isto não pode ser normal, só pode ser consequência dos tempos modernos.
Wednesday, February 11, 2004
Springtime.
Já anda por aí uma brisa de Primavera:
©Lambchop
Nota: tem bastante piada deambular um pouco pelas várias revistas de música, as ditas "da especialidade", e ver como uns e outros oscilam entre qual dos dois albuns simultâneos considerar melhor. Confesso que também eu ainda não sei, mais me parece que se completam.
©Lambchop
Nota: tem bastante piada deambular um pouco pelas várias revistas de música, as ditas "da especialidade", e ver como uns e outros oscilam entre qual dos dois albuns simultâneos considerar melhor. Confesso que também eu ainda não sei, mais me parece que se completam.
Tuesday, February 10, 2004
Momento dos leitores.
Car@ Omega*,
Devo antes de mais dizer-lhe que gostei de si. Melhor, de parte de si. Já pela manhã de ontem tinha tido a oportunidade de o escrever a GPT.
Sabe uma coisa? Eu gosto da crítica. Gosto sinceramente de ser criticado, quer negativa quer positivamente. E gostei das críticas que fez ao blog. Ironicamente, poderei até concordar consigo, quem sabe? Acho apenas que amoleceu, foi mais acutilante nos primeiros comentários, nos segundos quase se torna uma criatura ternurenta que tenta dar uma ajuda (tenho uma lágrima no canto do olho), embora com a vantagem de conseguir pôr a sua ideia por escrito. Não consegui foi perceber bem se tinha uma ou mais ideias. Percebo que não gosta do nosso blog, embora simpatize com o GPT. Contraditório? – Nem por isso, diria normal. Há leitores que preferem o TMM, e pasme-se, haverá um ou outro que ao engano me prefira a mim. São opiniões, não é? Não custam nada a dar, e todos as temos em barda. As suas, sabe Deus, provavelmente melhores que as nossas, que são fracas e banais. Mas pelo menos são assumidas e têm um nome que as assinam. Não resultam do déficit de coragem que um falso nome esconde. É triste, mas é verdade. Tanta espontaneidade quando não se dá a cara, mas tão pouca intrepidez para a dar, ajudam a destacar a cobardia.
Já agora, e quando assinar com o seu nome, explique-me lá porque é que me acha um "tristíssimo escritor". Deixo-lhe uma dica: vá pela parte do tristíssimo, porque pela parte do escritor eu não me interesso nada.
*Omega – aparentemente um leitor deste blog, embora na diagonal (vidé comments a este post); vigésima quarta e última letra do alfabeto grego; marca suíça de relógios.
Devo antes de mais dizer-lhe que gostei de si. Melhor, de parte de si. Já pela manhã de ontem tinha tido a oportunidade de o escrever a GPT.
Sabe uma coisa? Eu gosto da crítica. Gosto sinceramente de ser criticado, quer negativa quer positivamente. E gostei das críticas que fez ao blog. Ironicamente, poderei até concordar consigo, quem sabe? Acho apenas que amoleceu, foi mais acutilante nos primeiros comentários, nos segundos quase se torna uma criatura ternurenta que tenta dar uma ajuda (tenho uma lágrima no canto do olho), embora com a vantagem de conseguir pôr a sua ideia por escrito. Não consegui foi perceber bem se tinha uma ou mais ideias. Percebo que não gosta do nosso blog, embora simpatize com o GPT. Contraditório? – Nem por isso, diria normal. Há leitores que preferem o TMM, e pasme-se, haverá um ou outro que ao engano me prefira a mim. São opiniões, não é? Não custam nada a dar, e todos as temos em barda. As suas, sabe Deus, provavelmente melhores que as nossas, que são fracas e banais. Mas pelo menos são assumidas e têm um nome que as assinam. Não resultam do déficit de coragem que um falso nome esconde. É triste, mas é verdade. Tanta espontaneidade quando não se dá a cara, mas tão pouca intrepidez para a dar, ajudam a destacar a cobardia.
Já agora, e quando assinar com o seu nome, explique-me lá porque é que me acha um "tristíssimo escritor". Deixo-lhe uma dica: vá pela parte do tristíssimo, porque pela parte do escritor eu não me interesso nada.
*Omega – aparentemente um leitor deste blog, embora na diagonal (vidé comments a este post); vigésima quarta e última letra do alfabeto grego; marca suíça de relógios.
Friday, February 06, 2004
Para o TMM.
Já que o TMM gosta desta recomendações sonoras, escritas e outras, aqui fica uma solteira recomendação minha, presença habitual na turntable aqui do escriba:
© www.chicobuarque.com
E já agora, aqui fica também a letra de Meu Caro Amigo, que vale a pena ler, mas ainda mais ouvir (coincidência até, a letra foi escrita para Augusto Boal, na altura exilado, em Lisboa).
Meu Caro Amigo
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo pessoal
Adeus
© www.chicobuarque.com
E já agora, aqui fica também a letra de Meu Caro Amigo, que vale a pena ler, mas ainda mais ouvir (coincidência até, a letra foi escrita para Augusto Boal, na altura exilado, em Lisboa).
Meu Caro Amigo
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo pessoal
Adeus
Falando do tal sofismo ao meu caro GPT.
Antes de mais deixa-me dizer-te que eu não pretendo a ressureição dos Sofistas nem o triunfo da retórica. Eu só questionei (a mim próprio e ao eventual leitor) se os blogs não estariam a ser um regresso da retórica. Mui menos o proclamei, foi algo como um "Poderá ser?". Provavelmente pretendo não complicar ao entrar pelo campo das correntes do discurso, mas antes simplificar. Apenas pego em Descartes para te dizer que "o bom senso é a cousa do mundo mais bem distribuída, porque cada qual pensa ser tão bem provido dele que mesmo os que são mais difíceis de contentar noutras cousas não costumam desejar mais do que o que têm. (...) Quanto a mim, nunca presumi que o meu espírito fosse em nada mais perfeito que os do comum; muitas vezes mesmo desejei ter o pensamento tão pronto, ou a imaginação tão nítida e distinta, ou a memória tão ampla ou tão presente, como alguns outros."
Para além disso, quando mencionava a retórica, e questionava o seu triunfo, estava mais focado noutros episódios. Lembro-me de há 1 ano atrás ter encontrado o meu antigo patrão de Berlin no bar do train de nuit Paris-Berlin, e que por ali ficámos durante 2 horas à conversa, acompanhados pelo seu cognac. A bem da conversa, falámos apenas 10 ou 15 minutos de arquitectura, e o resto do tempo deambulámos pelos Europeus, mais propriamente entre franceses e alemães. Aqui importa referir-te que ele, Finn, é um alemão, mais propriamente um prussiano, mas culturalmente é um francês, consequência de ter vivido mais de metade da sua vida em Paris. Às tantas falava da sua admiração pela minha preferência do sistema anglo-saxónico em detrimento do latino, do meu abominar de certos detalhes do comportamento latino, do espanto que lhe causava um português perder-se em viagens e interesse pela Europa de leste e pelo mundo eslavo. E disse-me algo que não esqueci, fruto da sua experiência e grande conhecimento tanto da Alemanha como de França. Disse-me que em França ganhas facilmente uma discussão pela retórica, mesmo não tendo razão, exactamente o contrário da Alemanha, em que uma discussão é determinadamente objectiva, dependendo dos factores e dos argumentos. Ou seja, na Alemanha ganhas uma discussão pela validade dos teus argumentos objectivos, e muitas vezes essa é a última vez que discutes com essa pessoa, porque ela simplesmente deixa de te interessar. Em França, com boa prosápia, óptima retórica, fracos argumentos e nenhuma razão também ganhas a mesma discussão. Sem querer generalizar (mas caindo na tentação de o fazer, repara na fraqueza), creio que isto é facilmente aplicável ao mundo latino e ao mundo anglo-saxónico. Qual o sistema que cada um de nós prefere, isso já é outra conversa. Mas vejo aqui, não sei se erradamente, a dicotomia entre subjectividade e objectividade. Creio que sabes que eu não gosto de ir pela retórica, que eu só em certas excepções aceito a subjectividade. Aliás, faço geralmente acompanhar a palavra subjectividade pela palavra puta, já agora, completando, refiro-me mais à puta da subjectividade do que à subjectividade singelamente. Não é por acaso. Ocorre-me aqui espontaneamente uma sugestão em relação a esta dicotomia. Pensa em gajas, pensa nas objectivas e nas subjectivas. Pensa no que te agrada num caso e no outro. (A mim isto lembra-me, imagina lá tu a coincidência, a diferença entre as latinas e as anglo-saxónicas, imagina lá tu, ele há coincidências... – mas se calhar é melhor nem entrarmos por aí.)
Pegando nas tuas palavras, creio-me na maiêutica pós-socrática. E já que tenho aqui à mão o Descartes, "pode ser que me engane, e tome por ouro e diamantes o que é apenas um pouco de cobre e vidro.(...) Assim, o meu intento não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir a sua razão, mas somente mostrar de que maneira procurei conduzir a minha."
Para além disso, quando mencionava a retórica, e questionava o seu triunfo, estava mais focado noutros episódios. Lembro-me de há 1 ano atrás ter encontrado o meu antigo patrão de Berlin no bar do train de nuit Paris-Berlin, e que por ali ficámos durante 2 horas à conversa, acompanhados pelo seu cognac. A bem da conversa, falámos apenas 10 ou 15 minutos de arquitectura, e o resto do tempo deambulámos pelos Europeus, mais propriamente entre franceses e alemães. Aqui importa referir-te que ele, Finn, é um alemão, mais propriamente um prussiano, mas culturalmente é um francês, consequência de ter vivido mais de metade da sua vida em Paris. Às tantas falava da sua admiração pela minha preferência do sistema anglo-saxónico em detrimento do latino, do meu abominar de certos detalhes do comportamento latino, do espanto que lhe causava um português perder-se em viagens e interesse pela Europa de leste e pelo mundo eslavo. E disse-me algo que não esqueci, fruto da sua experiência e grande conhecimento tanto da Alemanha como de França. Disse-me que em França ganhas facilmente uma discussão pela retórica, mesmo não tendo razão, exactamente o contrário da Alemanha, em que uma discussão é determinadamente objectiva, dependendo dos factores e dos argumentos. Ou seja, na Alemanha ganhas uma discussão pela validade dos teus argumentos objectivos, e muitas vezes essa é a última vez que discutes com essa pessoa, porque ela simplesmente deixa de te interessar. Em França, com boa prosápia, óptima retórica, fracos argumentos e nenhuma razão também ganhas a mesma discussão. Sem querer generalizar (mas caindo na tentação de o fazer, repara na fraqueza), creio que isto é facilmente aplicável ao mundo latino e ao mundo anglo-saxónico. Qual o sistema que cada um de nós prefere, isso já é outra conversa. Mas vejo aqui, não sei se erradamente, a dicotomia entre subjectividade e objectividade. Creio que sabes que eu não gosto de ir pela retórica, que eu só em certas excepções aceito a subjectividade. Aliás, faço geralmente acompanhar a palavra subjectividade pela palavra puta, já agora, completando, refiro-me mais à puta da subjectividade do que à subjectividade singelamente. Não é por acaso. Ocorre-me aqui espontaneamente uma sugestão em relação a esta dicotomia. Pensa em gajas, pensa nas objectivas e nas subjectivas. Pensa no que te agrada num caso e no outro. (A mim isto lembra-me, imagina lá tu a coincidência, a diferença entre as latinas e as anglo-saxónicas, imagina lá tu, ele há coincidências... – mas se calhar é melhor nem entrarmos por aí.)
Pegando nas tuas palavras, creio-me na maiêutica pós-socrática. E já que tenho aqui à mão o Descartes, "pode ser que me engane, e tome por ouro e diamantes o que é apenas um pouco de cobre e vidro.(...) Assim, o meu intento não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir a sua razão, mas somente mostrar de que maneira procurei conduzir a minha."
Thursday, February 05, 2004
Ricos dias...
...lá fora. E o que mais me apetece é pegar num livro e deitar-me num relvado a ler, a aproveitar a temperatura precocemente primaveril. Não sei se as andorinhas já voltaram, se a água dos rios ainda está gelada, mas já há árvores com flor, eu vi (da minha janela a buganvília), e sim, hoje o confirmei várias vezes, ainda é só 5 de Fevereiro.
Apetecia-me este descanso, esta calma, este paradoxal bucolismo urbano (e é só isso, um gajo às vezes tem dias assim):
Lustgarten, Berlin, Julho de 2002
Apetecia-me este descanso, esta calma, este paradoxal bucolismo urbano (e é só isso, um gajo às vezes tem dias assim):
Lustgarten, Berlin, Julho de 2002
Tuesday, February 03, 2004
E só para acabar...
...e parar com esta conversa chata, o melhor é deixar aqui uns telhados. Todos são telhados, todos têm a mesma função, mas todos são diferentes – como nós, não é? A cidade das torres:
Praha, Janeiro de 2000
Praha, Janeiro de 2000
Bloguisses (II).
E na sequência do post anterior ocorre-me que não se consegue agradar a todos os leitores. Todos temos as nossas opiniões sobre tudo e sobre nada, e na sua grande maioria completamente desinteressantes. O importante é ter noção disso, ao darmos as nossas opiniões e ao lermos as dos outros. Algo como "esta merda que eu tou para aqui a escrever não interessa nem ao menino Jesus, mas há por aí alguém concerteza que me vai dar troco". E muita da piada está aí. No fundo pode ser de certa forma o triunfo da retórica, agrade-nos isso ou não. E os blogs funcionam muito assim, estamos no mesmo barco, mas não o queremos ver parado, e por isso há que alimentar as caldeiras, descobrir o cisco no olho do blogger ao lado. Isto apenas para dizer que talvez as mais das vezes, o que lêmos nos blogs sejam só isso, exercícios de retórica. Dá-se-lhes a importância que têm, ou que achamos que têm, muitas vezes nenhuma. É claro que isto não é norma, também surge o oposto, objectividade regada pela inspiração na forma (verbal). Acontece ainda que todos lemos aquilo que nos é confortável, fazemos uma seleção daquilo que lemos pelo agrado que nos dá. E quando vamos ler algo escrito por determinada pessoa, já vamos à espera de encontrar o que nos agrada nos seus escrito. Ora, quando essa pessoa se desvia, por qualquer que seja o motivo, daquilo que esperamos, dá-se o desapontamento e quantas vezes o corte. Isso acontece com escritores, com cronistas e também com bloggers, no fundo com todos aqueles que revelam a sua opinião.
Aqui neste blog, a piada pode estar na diversidade. Tendo nós os 3 tanta coisa em comum, para além de uma antiga e forte amizade, temos também bastantes diferenças, a começar logo pelos nossos interesses e pela forma como para aqui os passamos. Se eu posto deambulações mentais, desvarios e banalidades, se o TMM procura informar os leitores com aquilo que sabe e conhece, e se o GPT oscila entre tudo isto, tanto melhor. O Blog é para isso mesmo, e ainda bem!
Aqui neste blog, a piada pode estar na diversidade. Tendo nós os 3 tanta coisa em comum, para além de uma antiga e forte amizade, temos também bastantes diferenças, a começar logo pelos nossos interesses e pela forma como para aqui os passamos. Se eu posto deambulações mentais, desvarios e banalidades, se o TMM procura informar os leitores com aquilo que sabe e conhece, e se o GPT oscila entre tudo isto, tanto melhor. O Blog é para isso mesmo, e ainda bem!
Bloguisses (I)
Acabado de jantar e de arrumar a cozinha, emana do som de 2 caixas negras na sala a voz de Ella. A janela aberta – luxos de Fevereiro - deixando entrar um aroma de coentros sobre os quais vai pousando doucement a humidade perdida no ar. Na divisão contígua, abato sobre o teclado os dedos com a eventual intenção de balancear um pouco dos últimos dias do Blog sem Nome, provavelmente na sequência da conversa tida ontem ao jantar com o TMM. Foram agitados, parece-me. E mais duas vezes por causa de bola, embora a primeira delas de forma indirecta. Fico surpreendido com o que desperta em nós humanos, mais até em nós latinos, a paixão clubística. Surpreendido comigo e com os outros. Facilmente nos deixamos cair no facciosismo, mas mais facilmente ainda realizamos que defendemos aguerridamente demais uma causa que é, no fundo, tão relativa. Afinal o futebol não passa de um jogo. Pior, chegamos a defender o nosso clube mais cegamente do que causas em que até acreditamos mais, ou mais importantes para a nossa vida. Pode isto ser um mea culpa; já à minha volta cabe a cada um pôr a mão na consciência e fazer o que entender. Introspecção, sugiro.
Indo rapidamente ao que aqui me traz, é mais do que óbvio que fui mal interpretado (ou nem sequer interpretado) quando postei um e-mail que diz que Mourinho foi eleito treinador do ano pela Uefa com uma percentagem brutal de votos vindos do mesmo IP, obviamente localizado em Portugal. Mas tal post tinha um título (Nada que não se esperasse), que eu, ingenuamente reconheço-o, pensei que bastasse per si. Erro meu, pois a lógica do para bom entendedor meia palavra basta não prevaleceu. Percebo que passo a ter que ser mais claro, mais óbvio, obriga-me a abdicar de subtilidade – muito embora essa perspectiva não me agrade, odeio o discurso professoral. Indo ao ponto, o que eu queria justamente dizer era apenas que não me surpreendeu rigorosamente nada que tal mail circulasse por aí. Mas o conteúdo (indiferente embora mediático) absorveu o peso da mensagem subliminar. Como todos os portugueses bem sucedidos na sua área profissional, a calúnia e o mal-dizer acompanham o sucesso. Basta pensar em quantos boatos acerca da orientação sexual deste ou daquela (bons ou conhecidos naquilo que fazem, qualquer que seja a área) ouvimos por mês. Ou em quantos portugueses preferem abandonar o país (e fazer uma carreira quantas vezes melhor) a serem sujeitos a este tratamento tão especial que lhes está reservado mal granjeiam o sucesso profissional.
O mais triste disto é que está na natureza humana o constante rotular, encontar handicaps naqueles que nos rodeiam. Só não percebi ainda é se é por inveja, ou por auto-defesa.
Quanto ao tal jogo de sábado, devo confessar que já me enjoa tanto fumo sem fogo. Tanto caso assente em estacaria bamba, tanta revolta com causas de fachada, tanta raiva de caliça. Afinal, basta dar alguma distância para realizar que não se passou senão nada que não se esperasse.
post scriptum: post escrito ontem e só hoje postado. Problemas logísticos.
Indo rapidamente ao que aqui me traz, é mais do que óbvio que fui mal interpretado (ou nem sequer interpretado) quando postei um e-mail que diz que Mourinho foi eleito treinador do ano pela Uefa com uma percentagem brutal de votos vindos do mesmo IP, obviamente localizado em Portugal. Mas tal post tinha um título (Nada que não se esperasse), que eu, ingenuamente reconheço-o, pensei que bastasse per si. Erro meu, pois a lógica do para bom entendedor meia palavra basta não prevaleceu. Percebo que passo a ter que ser mais claro, mais óbvio, obriga-me a abdicar de subtilidade – muito embora essa perspectiva não me agrade, odeio o discurso professoral. Indo ao ponto, o que eu queria justamente dizer era apenas que não me surpreendeu rigorosamente nada que tal mail circulasse por aí. Mas o conteúdo (indiferente embora mediático) absorveu o peso da mensagem subliminar. Como todos os portugueses bem sucedidos na sua área profissional, a calúnia e o mal-dizer acompanham o sucesso. Basta pensar em quantos boatos acerca da orientação sexual deste ou daquela (bons ou conhecidos naquilo que fazem, qualquer que seja a área) ouvimos por mês. Ou em quantos portugueses preferem abandonar o país (e fazer uma carreira quantas vezes melhor) a serem sujeitos a este tratamento tão especial que lhes está reservado mal granjeiam o sucesso profissional.
O mais triste disto é que está na natureza humana o constante rotular, encontar handicaps naqueles que nos rodeiam. Só não percebi ainda é se é por inveja, ou por auto-defesa.
Quanto ao tal jogo de sábado, devo confessar que já me enjoa tanto fumo sem fogo. Tanto caso assente em estacaria bamba, tanta revolta com causas de fachada, tanta raiva de caliça. Afinal, basta dar alguma distância para realizar que não se passou senão nada que não se esperasse.
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Monday, February 02, 2004
Sporting - Porto.
Depois de 6(!!!) posts (e ainda uma síntese final) de TMM e de 3 de GPT, parece que o clima da guerra civil de alvalade acalma finalmente neste Blog. Ainda bem!
Aqui estes comentadores de serviço já fizeram as suas crónicas, análises, dissecaram o jogo de acordo com a sua perspectiva. Enfim, extrapolaram o que lhes ia na alma, e fizeram bem, pois uma alma com raiva não é nada boa, nem se recomenda. Agora, espero, adiante com isto. Foi só um jogo de bola, e nem teve assim tantos casos. As palavras que um amigo e sócio do FCP me enviou logo após o final do jogo foram estas: Granda joga. Justo.. 3 palavritas, e está mais ou menos tudo dito. Quanto à roupa suja, deixo para outros a barrela. Para mais opiniões, que tentam ser imparciais, remeto para este post do Bear, que practicamente assino por baixo.
Aqui estes comentadores de serviço já fizeram as suas crónicas, análises, dissecaram o jogo de acordo com a sua perspectiva. Enfim, extrapolaram o que lhes ia na alma, e fizeram bem, pois uma alma com raiva não é nada boa, nem se recomenda. Agora, espero, adiante com isto. Foi só um jogo de bola, e nem teve assim tantos casos. As palavras que um amigo e sócio do FCP me enviou logo após o final do jogo foram estas: Granda joga. Justo.. 3 palavritas, e está mais ou menos tudo dito. Quanto à roupa suja, deixo para outros a barrela. Para mais opiniões, que tentam ser imparciais, remeto para este post do Bear, que practicamente assino por baixo.